AS SETE PALAVRAS DE CRISTO NA CRUZ. 6. “Está consumado” (Jo 19.28-30).
“Vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! […]. Embeberam de vinagre uma esponja e lha chegaram á boca. Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado!.” (Jo 19.28-30). Esta é uma palavra de alívio e também de vitória. No justo momento em que a pronunciou, Jesus consumou seus sofrimentos, sua missão, e a demonstração maior do amor de Deus aos homens.
1. Os sofrimentos de Cristo.
Esta penúltima palavra de Cristo na cruz marcou o fim dos seus sofrimentos. Estes começaram na manjedoura de um estábulo, em Belém, e culminaram na cruz do Calvário, fora dos muros de Jerusalém. Incluíram pobreza, perda de entes queridos, trabalho profissional árduo, viagens e, por fim, cansaço, fome, sede, incompreensão, calúnia, maus tratos, ultrajes, rejeição, traição, condenação, e principalmente a crucificação. “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer […]. Ele tomou sobre si as nossas enfermidades […]. foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades […]” (Is 53.3-5). Portanto, foi com um suspiro de alívio e com um forte sentimento de vitória que Cristo bradou na cruz: “Está consumado!”
Os sofrimentos de Cristo foram por nós. Os do Calvário foram “vicários” e“expiatórios”. Neste sentido, foram únicos. Contudo. há um sentido em que nós, cristãos, participamos dos sofrimentos de Cristo. Paulo anelava “ser achado nele […] para o conhecer e a comunhão dos seus sofrimentos” (Fp 3.9,10). O mesmo apóstolo escreveu aos Colossenses: “Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). Pedro escreveu aos cristãos perseguidos: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos […]. Alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo […]. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o espírito da glória e de Deus” (I Pe 4.12-14). Os apóstolos regozijaram-se “por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” (At 5.41).
Esta penúltima palavra de Cristo na cruz lembra-nos que, se perseverarmos e, de bom grado, suportarmos os sofrimentos que a fé, o testemunho e o serviço cristão nos impõem, chegaremos ao fim de nossas vidas aliviados sim, mas também e principalmente com um forte sentimento de vitória.
2. A missão de Cristo.
Jesus, quando viveu aqui neste mundo, demonstrou ter plena consciência de sua missão. Repetidas vezes ele disse: “O Pai me enviou […]” (Jo 20.2l). E mais: “Deus enviou o Seu Filho ao mundo […] para que o mundo fosse salvo por Ele.” (Jo 3.17). A Salvação seria realizada na cruz. O Justo morreria pelos injustos, o Pastor daria a vida pelas ovelhas. Seria em Jerusalém, mais precisamente, fora dos muros da velha cidade. E Jesus, “[…] ao se completarem os dias […] manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lc 9.51). Na véspera, no Getsêmani, ele orou: “Meu Pai: Se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e, sim, como tu queres.” E logo, outra vez: “Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade” (Mt 26.39,42). Jesus bebeu o cálice até a última gota, e então bradou: “Está consumado!” Sua missão estava cumprida.
Esta palavra de Cristo na cruz ensina-nos que a Salvação é um fato “consumado”. Os pecadores não precisam e não podem acrescentar-lhe coisa alguma. São “justificados (ou salvos) gratuitamente […] mediante a redenção que há em Cristo Jesus”, e isto “pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3.24,28).
Além disso, esta palavra que Cristo proferiu ao consumar a sua missão no mundo faz-nos pensar em nossa própria missão. Sim, porque ele disse aos seus discípulos: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os… e ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19-20).
Esta é a nossa missão precípua no mundo, mas há as missões secundárias, circunstanciais, temporárias: as coisas que Deus planejou para nossas vidas (Sl 139.16). Há ministérios específicos que devemos cumprir conforme os talentos naturais e dons espirituais que o Senhor nos deu. Conhecemos nossos dons? Sabemos exatamente o que Deus quer que façamos? Esforçamo-nos por cumprir sua vontade em nossas vidas, a qualquer preço? Paulo disse uma vez: “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Porque assim estava determinado, esse apóstolo pôde dizer, no final da vida: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (II Tm 4.7). Quase o equivalente ao “Está consumado!” de Jesus.
Éber M.Lenz César